Poiesis Urbana

24.6.05

Tríade do sabor eterno

Lua. Sobre mim o desejo, a consagração.
Crua. Sem tempo, sem prumo, sem rota, sem mundo.
Nua. Corpo que o dia usurpa. Negros belos cílios.
— Toda tua. Beija-flor azul escuridão.
Paixão. Cegueira dengosa que não partilho.

Sol. Sorrisos à mesa, garfos e facas. Puxo
Conversa. Cachos soltos rendem a visão.
Jatobá floresce mil anos. Nosso filho
É vida, movimento, carinho. É tudo.
Deuses invejam: glória, família e ação.

Olhos fechados. Sua beleza, meu suspiro.
O dia chama lá fora — à luta, ao luto.
Sobre a cama, entre as colchas, meu coração.
Prazer adiado para melhor curti-lo.
Louca, a boca calada me chama. Eu fujo.

23.6.05

E se pessoas fossem anjos, anjos sem asas, anjos sem Deus e sem pecados. E se, privados do vôo de Ícaro, buscassem eternamente, de todas as formas, essa liberdade, esse desprendimento dos solos e dos sólidos, dos meios e dos fins. E se a única maneira de aplacar essa angústia fosse, de bom grado, vendar os olhos, amarrar as mãos às costas e trancafiar-se em um calabouço, em outro anjo. O amor.