Poiesis Urbana

23.10.04

Círculo da Infância

Carrossel!
Escarcéu de luzes,
Risos pós lágrimas,
Quem não viver
nesta fica
pra outra rodada.

É cavalo
Cavalão
Cavalinho
Sobe e desce
Charrete
Carrinho.

Flash de pai,
Grito de vó,
Mão na mão
da mãe
do menino.

Gira o verde
A vermelha
O laranja
A amarela
O Pequeno Príncipe
A Hello Kitty.

Carrossel!
Gira no parque,
na praça.
Gira na feira,
no centro
no interior
(de mim).

Felicidade,
que há longa data
Gira
este pouco tempo.




Carrossel, Maria Luzia Brandalise

17.10.04

Baile de Máscaras



A tristeza do Pierot
A lágrima do crocodilo
A fidelidade da Colombina
O gargalhar da hiena
A amizade do Arlequim
O amor do Carnaval
O elogio do invejoso
O lamento da carpideira
A cegueira da justiça
A humildade do vencedor
O reconhecimento do vencido
O abraço do candidato
A simpatia do vendedor
A culpa do governo
A beleza da playboy
O dinheiro da loteria
A fé do condenado
A pena do carrasco
O poder do rei
A bravata do mais forte
A cautela do mais fraco
A democracia do rico
A mais-valia do comunista
O medo do patrão
O sêmen do empregado
A droga do filho
A virgindade da filha
O celibato do padre
O abraço do estuprador
O beijo de Judas
O gozo da prostituta
A morte do indigente

Na sarjeta os ilustres e miseráveis se confundem,
No clube os burgueses quebram regras,
No salão as máscaras valsam sozinhas, já não precisam de corpo, rodopiam e enchem todo o ar de hipocrisia e luxúria.

15.10.04

Da virtude amesquinhadora

Passo no meio desta gente e guardo os olhos abertos: eles não me perdoam que eu não inveje suas virtudes.
Procuram morder-me, porque lhes digo: “Para gente pequena, são necessárias virtudes pequenas” — e porque custo a compreender que gente pequena seja necessária! (...)
Cortês, sou eu com elas, bem como paciente com todos os pequenos aborrecimentos: espinhar-se com o que é pequeno parece-me sabedoria de ouriço. (...)
E entre eles também aprendi isto: porta-se o louvador como se retribuísse algo, mas, na verdade, quer receber mais presentes! (...)
Passo no meio desta gente e guardo os olhos abertos: tornaram-se mais pequenos, cada vez mais pequenos: mas isso se deve à sua doutrina da felicidade e da virtude.
É que são modestos também na virtude — pois querem o bem-estar. Mas somente uma virtude modesta condiz com o bem-estar. (...)
“Eu sirvo, tu serves, ele serve” — assim reza, aqui também, a hipocresia dos dominantes — e ai, quando o primeiro senhor é somente o primeiro servidor! (...)
“Colocamos a nossa cadeira no meio”, diz-me o seu sorrizinho de contentamento, “e tão longe dos gladiadores morrentes quanto dos porcos satisfeitos.”
Isto, porém, é mediocridade — muito embora se chame moderação.


Nietzsche em Assim Falou Zaratustra

8.10.04

Um bom livro se devora com os olhos da alma.

A chave da felicidade, por Vitor Dias

6.10.04

Poesia e Loucura



Dom Quixote é a primeira das obras modernas, pois que aí se vê a razão cruel das identidades e das diferenças desdenhar infinitamente dos signos e das similitudes: pois que aí a linguagem rompe seu velho parentesco com as coisas, para entrar nessa soberania solitária donde só reaparecerá, em seu ser absoluto, tornada literatura; pois que aí a semelhança entra numa idade que é, para ela, a da desrazão e da imaginação. Uma vez desligados a similitude e os signos, duas experiências podem se constituir e duas personagens aparecer face a face. O louco, entendido não como doente, mas como desvio constituído e mantido, como função cultural indispensável, tornou-se, na experiência ocidental, o homem das semelhanças selvagens. Essa personagem, tal como é bosquejada nos romances ou no teatro da época barroca e tal como se institucionalizou pouco a pouco até a psiquiatria do século XIX, é aquela que se alienou na analogia. É o jogador desregrado do Mesmo e do Outro. Toma as coisas pelo que não são e as pessoas umas pelas outras; ignora seus amigos, reconhece os estranhos; crê desmascarar e impõe uma máscara. Inverte todos os valores e todas as proporções, porque acredita, a cada instante, decifrar signos: para ela, os ouropeus fazem um rei. Segundo a percepção cultural que se teve do louco até o fim do século XVIII, ele só é o Diferente na medida em que não conhece a Diferença; por toda a parte vê semelhanças e sinais da semelhança; todos os signos para ele se assemelham e todas as semelhanças valem como signos. Na outra extremidade do espaço cultural, mas totalmente próximo por sua simetria, o poeta é aquele que, por sob as diferenças nomeadas e cotidianamente previstas, reencontra os parentescos subterrâneos das coisas, suas similitudes dispersadas. Sob os signos estabelecidos e apesar deles, ouve um outro discurso, mais profundo, que lembra o tempo em que as palavras cintilavam na semelhança universal das coisas: a Soberania do Mesmo, tão difícil de enunciar, apaga na sua linhagem a distinção dos signos.


Trecho do livro As Palavras e as Coisas, de Michel Foucault

2.10.04

Teleinvisível




TELE VISÃO
Revisão a distância
Da ética e do homem,
Redução do sujeito
À superfície de uma tela
[plana.

Ou cara ou coroa
Paixão em razão
Razão em ciência
Ciência em fé.

Teleapatia
Teleinversão, perversão
Teleologia de ponta —
Obviedade de última geração.


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