Poiesis Urbana

4.1.05

Flashes d’Alameda

Pudor sob raros panos
Mão ajeita esparadrapo no pijama
Mãe segura filho pelo braço
Filha ergue soro da mãe
Passos de cágado
Médico passeia com cérebro no vidro
Como pão, no saco de pão
Seu cérebro não tem direito a timidez
A fome senta à sobra no chão
Junto dela o cansaço e seus filhos
Todos passam, alguns olham, outros riem
Mas ninguém faz nada
Ao gato que caminha sobre o telhado
do Hospital
Ele mia indiferente
Ao turbilhão de almas
clamando justiça
Nem tudo é indiferença
Algo de impotência no ar
O corpo cruza num esquife de aço
Opacidade transparente à imaginação
Vejo pontas de sofrimento e ternura
Enclausuradas e higienizadas
Já o chão tem suas marcas
de sangue
Um povo sem força ou escolha
De marcar alhures
No corredor, o cão não late
Para o gato, não late
Para as pessoas
Parece que nasceu para isso