Poiesis Urbana

29.8.04

MEU SANGUE

Ela não foi buscar-me no colégio
chorei por toda a noite no portão
já bem perto das onze aparecia
estranha entre a tristeza e a escuridão

ela falava só dentro do ônibus
sua veia avermelhava o corredor
o grito a bofetada o descontrole
e o frio bem maior que o cobertor

meu pai o perfumista silencioso
o Alcântara o Dom Pedro, o Vera cruz
o azeite o bacalhau o vinho do Porto
e a filha louca de Madam’Brandão

de pai ausente e mãe sempre doente
a força de escrever me equilibrou
e a ti devo, poesia, estar vivendo
de empréstimo da dor que não passou

Lucila Nogueira